Ghost B.C. é uma banda sueca formada em 2008, na cidade de Estocolmo. Seus integrantes tem a identidade oculta, e tocam com capuz e máscara para não serem reconhecidos. O vocalista é conhecido como Papa Emeritus, e nesse novo registro se apresenta como Papa Emeritus II. Eles fazem um som mesclando Heavy Metal com uma boa dose setentista de bandas de Hard/Heavy, e também tem algumas influências de doom. Seu debut, Opus Eponymous, conseguiu levar a banda à altos níveis de popularidade. Em 2013, a banda chega com Infestissumam, registro com data de lançamento para 9 de Abril.
O álbum começa com “Infestissumam”, faixa título que abre o trabalho de maneira sutil, com a participação de um coral proferindo versos em latim, enquanto a banda faz um som linear, e dando uma amostra do que está por vir. No final temos uma bela transição para a próxima faixa. “Per Aspera Ad Inferi” deixa nítido que a fórmula da banda não parece ter mudado, porém, ela se demonstra fraca perante todas as faixas do trabalho anterior, “Opus Eponymous”, e também perante o trabalho onde se insere. Seu refrão é totalmente sem graça e monótono. Acredito que foi um grande erro da banda iniciar com essa faixa, pois ela concede uma impressão que o “Infestissumam” é fraco, o que não é verdade. Realmente não me empolguei até o final da faixa, mas tudo mudou, pois a próxima faixa, a já conhecida “Secular Haze”, chega e destroça a mente do ouvinte, com suas frases marcantes e refrão pegajoso. Com um efeito hipnotizante, é uma daquelas faixas que você quer ouvir insanamente e repetidamente até não suportar mais. “Jigolo Har Megiddo” mostra uma nova faceta da banda, uma sonoridade que inclui elementos modernos, lembrando algumas bandas de rock alternativo (principalmente as da safra britânica), no entanto, é importante lembrar que o som peculiar da banda não é deixado de lado. Uma das questões mais interessante dessa faixa é a sua estrutura, onde as guitarras mostram um rock despretensioso, feito de maneira simples e bastante moldado nos padrões comerciais.
“Ghuleh / Zombie Queen”, eis aqui uma das melhores, senão a melhor faixa já feita pela banda. Com uma influência magistral e explícita de Pink Floyd, a vibe psicodélica e ao mesmo tempo melancólica dá as caras. Fiquei encantado com a faixa, e sinceramente, aos 1:12, quando os teclados entram, eu fiquei espantado com a quantidade de feeling que essa faixa exala, e me emocionei bastante na mesma, é até ridículo, visto a temática e proposta da banda, mas é a pura verdade. Quando achamos que a faixa está demasiadamente consistente em uma só diretriz, lá pela metade, nos deparamos com uma mudança brusca para uma levada agitada e até mesmo dançante (sim, eu falei dançante), onde o órgão dá a impressão que se está escutando surf music. A transição é feita de uma maneira bem interessante, a faixa já vale a audição de todo o trabalho.
Na segunda metade do trabalho, temos a também conhecida “Year Zero”, faixa para qual a banda já lançou um ótimo videoclipe. Extremamente pegajosa, e ao contrário de “Per Aspera Ad Inferi”, mesmo com um simples refrão: “Hail Satan, Archangelo. Hail Satan, welcome year zero” consegue provocar um certo êxtase no ouvinte. Seguindo com “Idolatrine”, faixa com influência de pop rock, e que mostra que o Ghost criou uma nova proposta de sonoridade, onde se distancia cada vez mais do Heavy Metal, rótulo que lhe fora aplicado no debut. Depois temos “Body And Blood”, outra faixa já disponível para audição anteriormente ao lançamento do álbum. Semelhante à “Jigolo Har Megiddo”, a faixa é mais um rock alternativo com uma sonoridade bem light, e com influência de britpop.
“Depth Of Satan’s Eyes” é uma faixa que não me empolgou, e mostra uma banda perdida em meio a tantas influências, dos anos 60,70,80 e 90. Mas sem absolutamente nenhuma âncora para Heavy, Doom, ou qualquer subgênero da música pesada. Faixa totalmente dispensável.
“Monstrance Clock” é a última faixa do álbum. Sem nenhum ponto a se destacar na sonoridade (exceto os teclados), o refrão segue a fórmula da fácil assimilação: “Come together, together as one, come together, for lucifer's son...”. No mais, também não é uma faixa empolgante, mas consegue encerrar o álbum com o mínimo de consistência.
Concluindo, o Infestissumam é um bom álbum, mas é importante comentar sobre a mudança de direcionamento que percebemos em metade das faixas. Se você vai ouvir achando que o álbum é Heavy Metal, Doom, ou algo do tipo, pode esquecer. Black Sabbath, Pentagram, Mercyful Fate, não há nada disso aqui. A única influência que ainda perdura do primeiro álbum é a do Blue Oyster Cult. Mas se concentrando nas novas sonoridades exploradas pela banda, conseguimos perceber que a fonte mais notável é o pop rock, sim. Encontramos aqui a New Wave dos anos 80, e também muita coisa de Britpop, movimento que marcou seu auge nos anos 90, liderado por bandas como Oasis e Blur. Uma influência abordada e que me chamou a atenção foi a psicodelia melancólica do Pink Floyd na faixa “Ghuleh / Zombie Queen”. De extremo bom gosto, espero que continuem inserindo esse tipo de sonoridade num futuro trabalho, pois a executaram com maestria.
Uma coisa que eu realmente passo a temer para o futuro da banda, é a banalização da temática abordada no álbum, pois muitas vezes a sonoridade ocultista não estava presente para coincidir com as letras. Diferente do debut, eu percebi um Ghost mais voltado ao Pop Rock, e com sonoridades nada macabras. Duas faixas que eu acho exceção à esse julgamento são “Secular Haze” e “Year Zero”, que podiam muito bem estar no “Opus Eponymous”. Muitas vezes a banda também se perdeu em meio às influências, com músicas beirando o ócio. Ex: “Depth Of Satan’s Eyes”.
Com relação à execução das músicas, a banda está de parabéns, também gostei muito do uso mais acentuado dos teclados. Agora o que resta é esperar para saber se o Ghost vai abandonar de vez suas raízes presentes no debut, se reinventando a cada lançamento, ou se até mesmo o flerte com o pop rock pode ser fatal. A banda vem cada vez mais alcançando novos ouvintes, chegando a níveis maiores de divulgação, e encontrando o mainstream. O Ghost tocará no Rock In Rio dia 19 de setembro, e os ingressos já estão esgotados para o festival. Seria de muito bom grado uma turnê pelo Brasil.
Informações técnicas
Tracklist:
1. Infestissumam
2. Per Aspera Ad Inferi
3. Secular Haze
4. Jigolo Har Megiddo
5. Ghuleh / Zombie Queen
6. Year Zero
7. Idolatrine
8. Body And Blood
9. Depth Of Satan’s Eyes
10. Monstrance Clock
Formação:
Papa Emeritus II Vocal
Nameless Ghouls Instrumentos
Lançamento: 9 de abril de 2013
Avaliação: 8,2
Prós:
- Músicas cativantes e influências diversas.
Contras:
- Perca de diretriz e proposta.
Por: Eduardo Santos